que a vi, era você um pássaro cor de chá
a primeira vez foi antes do voar existir
a primeira vez eram plumas de jovem (não penas)
ainda hoje (hoje é o futuro) há plumas de jovem, a penas
o pássaro não precisou nem quis nem sonhava em voar
o pássaro simples e tão somente pairou
já nascido alto, bem alto
e beijou o céu com seus bicos ternos
como se um bola de vôlei
gentilmente, ou por ela mesma,
levantada
não quisesse
nem precisasse ou sonhasse
em ser cortada
o pássaro sonhou que era um pássaro que não
precisava, nem queria, nem sonhava em voar
vou ver você pela primeira vez
outra vez
vou ver você pela segunda vez
outra vez
a delicadeza das formas e carnes do pássaro
os ossos ôcos
o querer pouco
o pequeno, o aninhar, o leve
é que fazem do pássaro
a imensidão cheia
da minha mesma calma
à distância
ou juntinho de si